quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Você em mim sempre foi uma certeza, que mesmo em um mar de dúvidas e planos, se pautou na mais absoluta noção de ausência de tempo, lugar e até mesmo de realidade na concepção atribuída a palavra em um plano temporal e estático. Você sempre foi em mim muito mais que tentava disfarçar. Sempre te encontrei no seu olhar e assim sempre me entendi.

Te convidei para entrar no meu mundo e me choquei quando quem me ofereceu um café e se fez anfitrião não foi eu.  Foi quando minha mente confusa, se certificou que havia encontrado conforto no novo. Meu coração se confortava sem saber porque e assim se aconchegava na sua presença, em estar com você.  Era um mundo novo que de novo não cabia, mas que me pertencia e de onde eu não pretendia sair.

Foi um aprendizado dia a dia e, mais que de um mestre eu precisava era de autonomia, para definir a  minha vontade de ficar. Passar meu café, com minhas manias, ser aquilo tudo que eu seria um dia mesmo que ninguém precisasse me falar. Era a vida que em mim renascia e que no meu peito, por tanto tempo, doía. Mas foi necessário parar e voltar a caminhar.

Sozinha...

A solidão nunca me abateu, pelo contrário só me fortaleceu na certeza do caminho e na busca (mesmo sem saber) de um encontro, não com o outro mas com tudo o que eu sou.  Foi uma força que me moveu e sempre me movia. Um sentimento que, por mais que tentasse e muito tentei, nunca consegui definir como algo diferente de uma confusão.

Mas no meio dessa confusão, a paz sempre existiu. A certeza (que certeza?!) que o meu mundo não era nem pequeno e nem grande, mas tinha o tamanho suficiente para conviver com mundos paralelos em plena harmonia.

Nunca foi estranho e nem tampouco anormal. Diferente? Sempre, mas nunca buscou ser igual. E foi ali, dentro do mundo que criei  e crio à cada dia, que me senti acolhida (talvez reconhecida) mas que não precisava ser nada, além de habitante natural, com tudo que sempre precisei brigar para ser. Não precisava brigar porque essa batalha era justamente o que distorce o meu ser e fazia do meu mundo um lugar em que nem eu mesma, poderia morar. Porque o amor, convive com a dor, mas não consegue suportar a batalha desconexa e a falta de perdão.

E foi assim... Nessa suposta solidão, que nada mais foi que um momento de introspecção, que sem bater na porta, mas com muita delicadeza, você me pediu para entrar. E foi assim que eu não entendi...  E pelo conforto do caos e por medo do que não conhecia, ao invés de abrir, impedi sua entrada para que eu pudesse no meu mundo continuar.

Mas o meu mundo foi vivo, foi intenso e foi crescendo! E não cabem mais atitudes impensadas, nem trancas nas portas. Cabem duas xícaras, mas eu só tomo café na caneca. Amargo e nem tão quente, aprendi a adoçar com canela e desde esse dia, adotei como mais uma mania. Mas posso mudar, se você não gostar. Ou se eu simplesmente cansar...

E assim, além de tirar as trancas eu resolvi abrir as janelas para deixar o Sol entrar. No meu mundo não cabem trancas e nem grades. E você já tem todas as chaves e sabe a hora de entrar.  E assim, olhando pela janela, do lado de fora, sem espionar mas com a certeza de poder chegar e se aconchegar. Não precisei refazer os meus segredos e nem deixá-los impressos em chaves diferentes. Eu não me preocupei em trocar a fechadura e nunca deixei que trocassem, pois sabia que você saberia e que nunca seria covardia, mas seria somente a sua forma de entrar...

Eu sabia mas como muitas certezas que tinha, eu descobri que me encobria em dúvidas programadas que não me deixavam enxergar (por medo) o que havia depois da porta. Via as sombras e me amedrontava. Queria chorar e brigava o tempo todo sem saber ao certo com quem e para que brigar. Me confrontei com meu medo, minha raiva e todos os meus sentimentos intensos. Até entender que o tempo de espera é o tempo que precisava para me preparar e que mal nenhum há nessa preparação. Eu me preparei para você, mas não se sinta ofendido e nem tampouco diminuído, eu me preparei para a festa que daria em mim no dia que te visse entrar.

Mas preparar a festa, é uma atividade muito produtiva e envolve, mais que prazos e exigências, a capacidade de se entregar. De caminhar...

E nessa entrega, nesse amor despreendido, ao mesmo tempo eu aprendi a me amar. Eu experimentei as roupas da festa antes de você chegar, para que na sua chegada não houvessem imprevistos. Eu me arrumei mas vi que preferia um outro vestido. E nesse meio tempo, eu que pensei que estava somente preparando uma festa, vi que estava alí, vivendo em festa com você, sem saber.

E assim eu pensei saber as regras, separei todo o jogo mas não percebi que já estava vivendo tudo para o que estava me preparando e, principalmente que o ensaio valeu.

E nós dois, tão preocupados em seguirmos as regras, nem notamos que as recriamos uma a uma e que construímos, além de um novo jogo, uma nova forma de jogar. Seguimos em frente para construir cada cena, uma a uma,  e nem nos tocamos que os personagens mudaram, ainda que continuemos nos mundos que criamos e que, com tanto amor cultivamos, nos abrimos sem perceber e construímos um mundo novo, que continua a abrir com as mesmas chaves, mas agora sim para nós, é tão familiar.

Nos preocupamos com nossas regras enquanto criávamos nossos códigos, mas não percebemos pois criamos juntos enquanto buscávamos corresponder ao que esperávamos ser. Não existem definições e tampouco explicações que nos mostre a quem encontrar. Nos reconstruímos enquanto tentávamos ser a melhor versão de nós mesmos e da forma como não esperávamos, conseguimos nos tornar um para o outro e o outro em nós.

E agora não mais buscamos, pois nem sabemos o que tanto buscar. Te esperei sem saber porque esperar e sem perceber que seu abraço era o que ansiava e me guiava. Não adiantaria nada me guardar para você, pois o tempo nos fez únicos. Nós mudamos, não para agradar quem queremos e não precisamos nos confrontar com o que não somos cobrando uma versão adequada de nós. Somos inteiros e não precisamos nos completar para atender as expectativas de quem quer que seja. Nem as nossas... pois nem sabemos o que esperar..

Eu não preciso de você, eu quero estar com você e na vida real!

Eu já te amava enquanto eu mudava e eu te ouvia, por mais que todavia pensasse ser a voz que acalentasse ou me amasse de forma romântica ou ameaçadora. Eu não sabia, mas te amava e mesmo sem nunca precisar, eu abri a porta para você entrar.  As chaves continuam com você e a música que entra pelas janelas abertas é cada vez mais inspiradora. E eu que ouvia de longe, hoje acompanho tocando e espero ansiosa o momento de te ouvir solar...

E enquanto isso, com o Sol pela janela escancarada, algo em mim permanece e tenho a certeza que nunca irá mudar.... Eu continuo me emocionando e me transportando para o melhor lugar que a minha alma já habitou, cada vez que eu te ouço tocar....