quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Depois da decolagem a águia pode voar em paz...

Eu resolvi voar e, por um tempo demorei para abrir as asas e percebi que estive muito mais apegada ao galho que me segurava e, me mostrou o mundo de um lugar mais alto do que às asas que pesavam em minhas costas.

Manter as asas fechadas me fez olhar demais para baixo e só enxergar o chão, que se aproximava e se afastava em níveis variados. Muitas vezes parecia se aproximar mas uma sensação de tonteira me fazia retomar o olhar e fixar novamente na estrada, que eu não sabia porque me sentia mais elevada, mas mesmo assim, com as costas pesadas...

Quando eu resolvi voar eu decidi que queria ver o mundo do alto e pensei por muito tempo que o alto que conseguia e que me prendia ao chão (mais alto) fosse o que me sustentava e o que ampliava o meu campo de visão. Quando eu resolvi voar eu caí, e por muitas vezes me levantei mas cada vez que eu subi eu decidi que me elevaria um pouco de cada vez.

Eu quis voar mas não conseguia entender até aonde poderia chegar.. 

Na verdade eu pretendi voar com pernas maiores e não conseguia ver toda a amplitude do horizonte que se expandia à cada patamar que eu subia. 

Eu não percebi que minhas asas eram o que pesavam e o que, na minha visão turva e condicionada me fazia cambalear. Eu decidi voar mas não percebi os sentidos e não entendi que nunca me faltariam asas para que pudesse chegar em níveis aonde elas antes me fizeram falta.... 

Até que um dia o galho em que eu me apoiava foi partido e eu nem percebi... 

Eu senti o peso das minhas ações e meu passado que perdurava e não imaginava que o peso nas minhas costas eram das minhas asas fechadas. 

Eu me vi sem o galho e sem o impulso mais alto que me prendia ao chão, eu não via mais o chão e não conseguia mais enxergar aquela mão que antes eu procurava quando precisava me sentir alimentada. Eu procurava mas não compreendia que a mão que me prendia ao impulso de voar era a mesma que não mais me garantiria sentir o mundo como parte da minha alma.

E nesse momento eu me vi com as asas fechadas mas as minhas costas não mais pesaram. Cicatrizaram! E eu passei a cuidar de quem eu teria que ser com as asas ao invés dos apoios e sem contar com a mão que me impulsionou a vontade de levantar o vôo. 

Eu tentei encontrar o meu ninho e tentei voar de volta para a montanha de onde eu me vi despencar mas já fazia muito tempo que o ninho não mais existia e eu já sabia que não encontraria os pares com quem eu um dia tive medo de decolar. 

Eu precisei refazer meu ninho e entender que aquele era o meu caminho e que não era o galho que me impulsionava que me dava a segurança da altura que precisava. Tampouco a mão que me guiava o que me garantiria voltar. Eu precisei abrir as minhas asas para sentir o vento e entender que a dor de mantê-las fechadas e as minhas costas pesadas não mais superava a vontade de entender o que aconteceria no dia que eu conseguisse abri-las e plainar no horizonte...

Entendi que o sentido do vento e o que o que me movia ao vôo não era o mesmo que me fazia continuar a voar.  Eu vi que pouco sei do fluxo e nada sei da vida sem os galhos que me seguravam mas que não é só o vento que dá a direção. 

Eu me permiti sentir e as minhas asas não mais pesaram, os meus sentidos não mais se explicaram e eu não consegui mais explicar a razão. Não consegui quantificar e nem ao menos entender, só sei que a dor parou de doer e que agora não preciso mais saber o quão alto eu terei que chegar. Porque não preciso de garantias quando eu sinto as minhas asas abertas.  O quanto o Universo pode me conceber uma "nova" forma de perceber o quão importante é seguir adiante. E o quanto o desconhecido do abismo se desfaz depois do frio na barriga e da liberdade da queda para que seja necessário subir novamente e seguir em frente. 

Certa vez, um rei muito sábio e justo foi presenteado por seus súditos com uma águia branca. A bela ave por sua beleza, foi posta numa árvore bem em frente à janela do rei, de forma que ele todos os dias ao abrir a janela, visse a águia com sua exuberante beleza alçar vôo. Os dias se passaram e o rei não viu a águia voar, ela se recusava a alçar voo, a sair do galho onde a puseram. O rei preocupado, chamou seus magos e conselheiros para saber o que houve com a águia. Ninguém sabia dar uma resposta, os dias se passavam e a águia lá parada. Exauridas todas as possibilidades físicas para que a ave voasse, o rei desistiu. Ele era o único rei a ter uma águia branca, mas também o único a ter uma águia que não voava. Inconformado com a ideia, o rei ofereceu um prêmio em terras pra quem fizesse sua águia voar.
Começou uma verdadeira corrida para fazer a águia voar. De bruxaria a morteiro de 5 tiros foi tentado...e nada! A tristeza do rei também era a de seus súditos. E em uma bela manhã de sol, ao abrir a janela o rei já acostumado com a águia no galho, teve uma surpresa ao olhar o que sobrou do galho: a águia não estava mais lá. “Roubaram minha águia” – pensou o rei. E ao levantar os olhos ao céu para reclamar, eis que surge, majestosa, dona de um voo sem igual, de beleza realmente rara, a sua águia. 

Houve um alvoroço no reino: “Quem fez a águia voar? Ninguém reclamou o prêmio oferecido”. Então um belo dia os soldados do rei adentram no castelo trazendo um aldeão, velho, molambo, mas com olhos sábios e alertas. E o rei pergunta ao chefe da guarda: - Que mal cometeu esse pobre homem? - Majestade, esse homem foi o responsável por sua águia ter voado. – disse um soldado. Então, admirado com a proeza, o rei indaga: Homem, que magia usastes para tal evento? E o ancião, humilde e tremulo, responde: - Nada em especial meu rei...Apenas cortei o galho! Às vezes é necessário que cortem nossos galhos para que possamos voar mais alto. (Autor desconhecido)


Nenhum comentário: